Organização Social no Movimento: A Rede de Círculos Locais
O sucesso dos projetos inspirados pelo Sr. Gülen depende de inúmeros círculos locas de empresários, profissionais e trabalhadores nas cidades e áreas rurais turcas. O modelo de círculos locais surgiu na cemaat, um tipo de grupo social que evoluiu na Turquia após a formação da República e o banimento das ordens sufistas e abolição das madraças. Muçulmanos praticantes que queriam preservar a herança islâmica ao mesmo tempo em que se adaptavam à modernidade formaram círculos em torno de eruditos e intelectuais que promoviam várias abordagens, como o foco em estudos corânicos, a combinação de devoção religiosa com uma forma branda de nacionalismo, ou práticas espirituais individualizadas. Esses grupos de leitores e ouvintes em torno de figuras pioneiras foram mais tarde chamadas de cemaats, um movimento de base de turcos praticantes e fiéis que não queriam abandonar sua tradição religiosa enquanto abraçavam a era moderna. Dentro das cemaats estabeleciam-se sohbets, ou pequenos grupos que não têm adesão formal, ritos de iniciação, não requerem um prédio para reunir o grupo e não tem insígnia pública ou reconhecimento de adesão. Em vez disso, eles são constituídos de pessoas que se encontram regularmente para ler comentários corânicos, as tradições proféticas e eruditos muçulmanos, para compartilhar ideias e necessidade das pessoas no grupo e determinar projetos de serviço social que o grupo decidir apoiar financeiramente.
Entre os eruditos notáveis da época, que atraía a atenção de um amplo número de cidadãos, estava Said Nursi, que promovia a harmonia entre ciência e razão de um lado, e revelação e fé do doutro. Enquanto Nursi foi fortemente influenciado pela tradição espiritual do Islam, seu foco estava em educar os fiéis contra o massacre do naturalismo e materialismo filosófico. Como discutido no capítulo anterior, o Sr. Gülen, em sua juventude, teve parte ativa em uma cemaat em torno dos ensinamentos de Nursi e experimentou o companheirismo e efetividade desse tipo de organização.
Conforme as ideias do Sr. Gülen se firmavam na Turquia no fim da década de 1960 e início dos anos 1970, resultado de seus sermões e escritos, ele encorajava a estrutura de sohbet como forma de encontro entre aqueles que eram inspirados pelas ideias dele para discutir a relevância dessas ideias para a sociedade turca contemporânea. Os turcos já estavam familiarizados com círculos locais e muitos deles já participavam de tais círculos de acordo com seus trabalhos, vizinhanças ou interesses pessoais. Seria natural, portanto que esses círculos focassem nas ideias pregadas por esse imam que atraia grandes multidões e inspirava uma nova esperança para o futuro da Turquia, especialmente a juventude turca.
Os dados desse capítulo foram obtidos em entrevistas com participantes do movimento que fazem parte de círculos locais. Na primavera de 2007, Dogan Koc entrevistou um círculo local de 12 empresários em Ancara, assim como uma entrevista com um empresário em Istambul que está no setor têxtil e faz contribuições anuais substanciais a projetos ligados a Gülen. Ele também entrevistou um grupo de apoiadores em Houston, Texas, constituído basicamente por estudantes universitários.[1] Na primavera de 2008, conduzi nove grupos focais com círculos locais de apoiadores de Gülen na Turquia. Em Istambul, entrevistei um grupo de oito empresários abastados; outro círculo local de 16 jovens profissionais, em sua maioria engenheiros; um grupo de 4 médicos e um administrador do Hospital Sema; um círculo local de 12 operários; e um grupo de mulheres que participam de um grupo local. Além disso, em Bursa, encontrei-me como um grupo de três empresários que são grandes doadores para escolas inspiradas por Gülen na região; um grupo de oito médicos no Hospital Bahar; e um círculo de 13 operários que se encontram em um círculo local em Bursa. Finalmente, em Mudanya, uma pequena povoação na periferia de Bursa, entrevistei um grupo de dez homens de várias profissões, incluindo um vendedor, um professor de escola primária, um servidor público aposentado e o dono de um restaurante consagrado.
Além desses grupos focais, conduzi entrevistas individuais com cinco pessoas que pertencem a grupos locais e fazem contribuições monetárias substanciais para projetos inspirados por Gülen tanto na Turquia quanto no exterior. Os entrevistados incluem: dois jornalistas, um empreendedor abastado da indústria alimentícia dono de uma das maiores companhias da Turquia, o dono de uma grande companhia têxtil e o diretor de uma das escolas inspiradas por Gülen.
As entrevistas individuais e com os grupos focais são representativas dos participantes do movimento em termos de classe social, ocupação, pequenas e grandes cidades, sexo, idade e duração da participação no movimento. Como resultado, os dados refletem a diversidade que existe nos círculos locais assim como entre os muitos indivíduos que são parte desses círculos. A análise neste capítulo é sociologicamente estruturada em termos de teorias organizacionais de comprometimento discutidas no Capítulo 1, eu apresento dados para mostrar que as contribuições feitas pelos membros do movimento, incluindo patrocinadores abastados, tanto demonstram comprometimento aos ideais do movimento quanto, ao mesmo tempo, geram comprometimento ao movimento.
A Estrutura dos Círculos Locais
Os círculos locais são normalmente organizados de duas maneiras: (1) de acordo com a localização e vizinhança; e (2) de acordo com a educação e profissões. Por exemplo, médicos em uma mesma área se encontram, assim como dentistas, advogados, contadores, professores, operários etc. Ao mesmo tempo em que participantes do movimento também podem participar a organizações profissionais maiores associadas ao movimento que têm encontros periódicos, eles se encontram uma ou duas vezes por semana em pequenos grupos de 10 a 12 pessoas. Nessas pequenas reuniões, os participantes falam sobre diversos assuntos, incluindo religião, trabalho técnico, família e que qualquer aspecto da vida apresentado pelos membros. Às vezes, o grupo lê o Alcorão ou a Tradição Profética; em outras ocasiões, o grupo pode ter um orador. Com frequência, os membros de um grupo simplesmente se encontram para compartilharem suas experiências de vida, o que quer que seja importante naquela semana. Como disse um dos membros: “O mais importante é o encontro e o compartilhamento. Toda semana, libero minha noite de sexta-feira e digo aos meus amigos para não me ligarem ou planejarem nada. O encontro com o meu círculo local é o evento mais importante da minha semana”.
O grupo de trabalhadores em Bursa se encontra, em círculos locais de 20 a 25 pessoas, uma vez por semana com novatos do Movimento Gülen e uma vez por semana com pessoas que já estão no movimento a mais tempo. Conforme afirma um dos trabalhadores: “Em nossa cultura, há valores que foram perdidos, portanto lemos materiais motivacionais como os livros de Gülen ou vídeos e trabalhos de Nursi, ou algo da Tradição Profética”. Como eles não são tão ricos quanto empresários, eles não conseguem patrocinar toda uma escola ou dez bolsas de estudos com alguns empresários, mas três trabalhadores talvez possam patrocinar uma bolsa de estudos. Além disso, o grupo em Bursa criou a Kor-Der, uma associação que organiza atividades em 120 municípios de Bursa para espalhar a mensagem de serviço do movimento, arrecadar doações e determinar as necessidades dos vilarejos locais. Portanto, enquanto o grupo de trabalhadores não é capaz de fazer grandes doações monetárias, os membros doam muitas horas de voluntariado solicitando ajuda de outros projetos de apoio comunitário.
Um empresário explica:
“Estarmos no mesmo tipo de negócio significa que temos uma base forte para encontrarmos e entendermos uns aos outros. Nós também criamos uma rede de contatos e indicamos clientes uns para os outros. Assim, temos uma base para discutir projetos necessários em nossa comunidade e como podemos ajudar esses projetos. Além disso, vemos os resultados dos nossos esforços, o que nos encoraja a ser ainda mais generosos.”
De fato, a ajuda mútua para o sucesso empresarial é promovida pelo Sr. Gülen. Em 2007, a Tuskon, uma associação empresarial com 1.500 membros inspirada por Gülen, patrocinou uma conferência em Istambul para mil empresários de países em desenvolvimento da África e Ásia Central na qual eles receberam treinamento sobre como desenvolver seus negócios. O auxílio mútuo em certo ramo e a rede de contatos entre eles é uma das razões pela qual a comunidade empresarial Gülen, na Turquia, é conhecida como uma das comunidades mais ricas do país.[2]
A organização com base em grupos naturais, como grupos profissionais ou ocupacionais também facilita o recrutamento. Grupos que compartilham uma identidade distinta e densas redes interpessoais são altamente organizados e facilmente mobilizados. O “recrutamento em bloco” de grupos de solidariedade preexistentes representa a forma mais eficiente de recrutamento.[3] Movimentos que focam em grupos preexistentes ou “naturais” e que ligam sua visão de mudança à cultura daquele grupo preexistente são mais eficazes do que esforços para recrutar indivíduos sozinhos. O recrutamento individual requer maior investimento de recursos e é muito mais lento do que o recrutamento em bloco.
Todos os círculos locais que visitei apresentavam separação por gêneros. Quando perguntei sobre as mulheres membros, em cada círculo, fui informada que os círculos são abertos às mulheres, mas que elas preferem se encontrar entre si e ficam mais confortáveis entre outras mulheres. No caso dos engenheiros, por exemplo, cerca de 10% das engenheiras reúnem-se em círculos mistos. Há um círculo local paralelo para que os 90% restantes das engenheiras se encontrem. O mesmo é verdadeiro para médicas, enfermeiras, dentistas, operárias etc. Uma das razões para a segregação, disseram-me, é logística. As mulheres preferem encontrar-se cedo durante o dia, antes que seus filhos cheguem das atividades escolares e requeiram sua atenção. Além disso, por questões de segurança, mulheres não gostam de sair à noite, quando muitos dos círculos masculinos se encontram.
A questão do papel das mulheres no Movimento Gülen surgiu repetidamente durante minhas entrevistas. Críticos do movimento, tanto na Turquia quanto em Houston, Texas, afirmam que as mulheres no movimento são vistas e tratadas como subservientes, espera-se que elas cumpram papeis tradicionais de criação dos filhos e cuidados com o lar, são encorajadas a usar o véu, são desencorajadas de interações sociais com homens e de papéis públicos de liderança.[4] Em minhas entrevistas com mulheres, na Turquia e nos Estados Unidos, descobri uma grande gama de diferenças entre as mulheres, tanto em seu julgamento sobre como são tratadas no movimento e em como veem o papel das mulheres nas atividades do movimento. Por exemplo, em San Antonio, Texas, uma mulher que usa o véu é a porta-voz e mestre de cerimônias no jantar anual de Ramadan, frequentado por centenas de pessoas da comunidade. O mesmo não ocorre em Houston, Texas, onde um homem sempre liderou o evento e é presidente do grupo local. Na Turquia, muitas das minhas entrevistadas valorizam o fato de que podem ensinar nas escolas e trabalhar nos hospitais inspirados por Gülen enquanto usam o véu, algo proibido nas instituições públicas da Turquia. Muitas dessas mulheres encontram empoderamento em serem capazes de decidir por si mesmas o que vestir, assim como em encontrar espaço nas instituições ligadas a Gülen para exercer suas habilidades e individualidade.[5]
Fiz entrevistas em um círculo local de mulheres na parte asiática de Istambul. O grupo constituído de uma mistura de mulheres de várias profissões, incluindo uma ex e uma atual professora de uma escola inspirada por Gülen, uma advogada, uma contadora, uma secretária, uma vendedora e uma mãe. Quando perguntei como elas se sentiam por serem excluídas dos círculos masculinos, fui corrigida dessa forma: “Nós não somos excluídas. Nós não queremos nos encontrar com os homens. Sentimo-nos mais confortáveis entre nós mesmas. Assim, podemos conversar sobre nossos interesses e preocupações, que são diferentes daqueles dos homens”.
Os círculos femininos, aprendi, operam de maneira similar aos dos homens. Os grupos encontram-se semanalmente, leem o Alcorão, a Tradição Profética, textos do Sr. Gülen e outros livros inspiradores. As mulheres discutem o tópico e como ele se relaciona às suas vidas. Elas também discutem sobre suas famílias, problemas que possam ter em casa, especialmente com seus filhos, e tratam de projetos sociais que precisam de sua ajuda. As mulheres que trabalham fora fazem contribuições financeiras aos projetos Gülen. As mulheres também se envolvem em kemes, ou seja, a prática turca de produzir artesanatos, por exemplo, bordados, crochês, trabalhos artísticos etc., que elas, então, vendem e doam os lucros a projetos que precisam de ajuda.
Uma parte essencial de qualquer círculo local é apoiar algum projeto necessitado, seja na Turquia ou em outro país. Quando perguntei como o grupo fica sabendo sobre as necessidades da comunidade, disseram-me que a comunidade inspirada por Gülen é muito unida e as pessoas sabem quais projetos precisam de ajuda. Algumas pessoas têm contato e apoiam projetos educacionais há anos e sabem o que está acontecendo no campo educacional. Outras estão ligadas aos hospitais e sabem das necessidades deles. E outras viajam para forra da Turquia e estão cientes das necessidades em outros países. Há um boca a boca sobre quais projetos precisam de mais ajuda em determinado momento e as pessoas dos círculos locais reúnem-se para decidir o que podem fazer para ajudar.
Além de doações financeiras no decorrer do ano, duas vezes ao ano os muçulmanos celebram festivais especiais que incentivam o sentimento de partilha com os necessitados. Durante o mês do Ramadan, quando todo muçulmano praticante jejua do amanhecer ao pôr do sol e se esforça mais para viver uma vida virtuosa e disciplinada, há também o requerimento de que o indivíduo compartilhe sua abundância com os necessitados. Quase sem exceção, muçulmanos em todo o mundo são especialmente generosos em suas contribuições para caridade durante o Ramadan.
O segundo festival é o Eid-ul-Adha, o Dia do Sacrifício, que ocorre imediatamente após o hajj, a peregrinação anual a Meca que é obrigatória, uma vez na vida, a todos os muçulmanos fisicamente capazes e que tenham condições de pagar por ela. No Dia do Sacrifício, muçulmanos sacrificam animais considerados halaal, adequados ao sacrifício, em homenagem ao sacrifício de Abraão a Deus. Eles não comem a carne, mas a distribuem a seus parentes, vizinhos, amigos e, finalmente, um terço é doado aos pobres e famintos. O objetivo, em muitas comunidades muçulmanas, é reunir-se para garantir que nenhum vizinho carente fique sem o alimento do sacrifício nesse dia.
Na época do Eid-ul-Adha, muitos meses antes das minhas entrevistas, um grupo de empresários de Bursa viajou a Darfur, no Sudão, onde três bois foram comprados e sacrificados e sua carne doada aos pobres da região. Além disso, eles conheceram outros empresários locais a quem convenceram a se envolver na construção de uma escola em uma das cidades de Darfur para garantir que os jovens fossem educados.
O Angariamento de Fundos para os Projetos Inspirados por Gülen
Um dos maiores, se não o maior, focos da visão de Gülen para Turquia e para a humanidade é a importância da qualidade da educação para o desenvolvimento da pessoa humana e, simultaneamente, para trazer a Turquia à era moderna do século XXI. Para atingir esse objetivo, ele defendeu a abertura de escolas, primeiro na Turquia e depois no mundo todo. Fazer isso exigiria o compromisso de todos no movimento, incluindo administradores, professores, tutores, alunos e o apoio financeiro de todos de acordo com suas possibilidades. Como resultado, todos os círculos em que fiz entrevistas enfatizaram como seus membros apoiam algum projeto educacional, incluindo dormitórios, cursos pré-vestibulares, a construção de escolas e financiamento de bolsas de estudos para que alunos carentes pudessem frequentar aquelas escolas.
Toda escola tem seu próprio sistema contábil e contadores que administram o orçamento e livros contábeis. Todas elas prestam contas às autoridades locais e estaduais, assim como aos patrocinadores dos fundos. Os patrocinadores locais conhecem bem as condições dos projetos em andamento a qualquer momento, pois eles são pessoalmente responsáveis por muitos deles, seja como construtores, contadores, membros da diretoria, professores, diretores etc. Portanto, eles podem facilmente monitorar como as doações estão sendo utilizadas, assim, alcançando uma transparência nas questões financeiras. Além disso, como um empresário explica:
“Primeiro, eu quero que você saiba que as pessoas do Movimento Gülen conquistaram a confiança de pessoas de todos os estratos sociais. As pessoas que apoiam as atividades desse movimento não se preocupam se as doações alcançaram seu destino, elas não ficam atrás disso. Contudo, se quisermos investigar isso, todas as informações estão disponíveis em todas as atividades, podemos ter certeza ao olhar para elas.”
Da mesma forma, um empresário local em Houston, que financia projetos ligados a Gülen afirmou: “Mesmo que eu não saiba os detalhes das atividades deles, conheço muito bem essas pessoas e confio nelas. Portanto, faço doações sabendo que elas serão bem utilizadas”.
Em Mardin, cidade no sudeste da Turquia, por exemplo, um círculo local de empresários se encontrou por um período de três anos (1988-1991) e percebeu que o Estado era incapaz de prover a educação necessária aos alunos, não somente de sua cidade, mas de toda a região sudeste da Turquia, para que eles pudessem competir nos exames vestibulares. A maioria dos empresários frequentavam os sermões públicos do Sr. Gülen, nos quais ele enfatizava a importância da educação e clamava pela construção de escolas modernas. Esses empresários foram inspirados pelo sucesso das Escolas Gülen, em Izmir, Istambul e Gaziantep, em distinguirem-se de outras escolas com sua educação baseada em pesquisa e em alcançar sucesso inédito em competições internacionais de ciências. Em visitas àquelas escolas, os eles viram que as pessoas que doavam para as escolas incluíam não apenas empresários, mas trabalhadores, professores e servidores públicos.
Em Mardin, esses empresários se aproximaram de mais e mais pessoas com quem compartilhavam uma visão educacional e a quem pediram ajuda para patrocinar as escolas. Alguns ofereceram dinheiro, outros ofereceram ajuda para encontrar indivíduos que fizessem doações monetárias, outros se ofereceram para angariar doações de materiais de construção e equipamentos de seus fornecedores e outros se comprometeram com trabalho físico na construção da escola. Atualmente, nas escolas do Movimento Gülen em Mardin, cada professor subsidia as despesas mensais de, pelo menos, um aluno do ensino fundamental ou médio.[6]
Em uma entrevista focal com doze empresários envolvidos na pequena indústria têxtil de Ancara, ouvimos histórias sobre como os empresários se envolveram pela primeira vez nos projetos inspirados por Gülen. Por exemplo, em 1985, um imam veio até a mesquita local e pediu a ajuda dos empresários para abrir uma escola para as crianças da cidade. Após sua partida, os empresários passaram a se reunir duas vezes por semana para discutir o assunto. O grupo comprometeu-se a auxiliar a construção da escola. Alguns doaram dinheiro, outros solicitaram doações financeiras de outros empresários na cidade e outros forneceram produtos e serviços, tais como concreto, mesas e até trabalho voluntário. Em pouco tempo, o Colégio Samanyolu abriu suas portas para a primeira turma de ensino médio.
O grupo de empresários continuou a encontrar-se regularmente para monitorar as necessidades da escola e iniciar projetos adicionais apoiados por eles. Por exemplo, em 1991, após o colapso da União Soviética, houve um massacre no Azerbaijão. As pessoas precisavam de ajuda. A comunidade Gülen em Ancara reagiu; 18 empresários de diferentes partes de Ancara foram ao Azerbaijão entregar dinheiro e produtos que haviam coletado de pessoas inspiradas por Gülen em Ancara. Um dos empresários disse: “Foi uma viagem importante para mim. Aprendi muito com as pessoas do nosso grupo. Elas eram pessoas muito diferentes, a maioria delas não era escolarizada como eu, mas todas me afetaram com seu entendimento sobre os ensinamentos do Sr. Gülen e com seu estilo de vida. Desde aquela viagem, estou muito envolvido no Movimento Gülen”.
Outro empresário no grupo focal contou uma história que tipifica a forma como muitas pessoas se envolvem com o movimento. Um dia, em 1988, ele conheceu um estudante de direito que era financiado por um empresário que ele conhecia de seu condomínio. Ele pediu ao empresário que o apresentasse a alguns daqueles estudantes de direito pouco privilegiados que não poderiam pagar pela faculdade de direito. Muitos dias depois, um grupo de estudantes de direito foram à loja dele. Contudo, eles não pediram por dinheiro, mas falaram sobre os problemas do país e do mundo. Algumas semanas mais tarde, eles convidaram o homem a sua casa, onde havia dez estudantes de direito de todas as partes da Turquia, a maioria deles de família pobre. Ainda assim, eles não falaram de dinheiro. Alguns dos estudantes visitaram a loja dele novamente e conheceram seu filho, que estava tendo dificuldades na escola. Eles se ofereceram para tutorar o menino, cujas notas melhoraram muito com a tutoria. Ainda não havia conversa sobre dinheiro. O homem, após um ano de contato com esses estudantes, financiou pessoalmente bolsas de estudos para ajuda-los a completar a faculdade de direito. Desde 1988, ele continua a oferecer tais bolsas de estudos a estudantes de direito em necessidade.
A história acima tipifica as ações do Sr. Gülen nas décadas de 1970 e 1980, quando ele vivia em ou próximo a campi universitários de toda a Turquia. Ele trabalhou como professor por um tempo e passou muitos anos supervisionando alunos do ensino médio e do ensino superior. Em Bursa, entrevistei um senhor que, junto com seu irmão, dividiram uma casa com o Sr. Gülen enquanto frequentavam a universidade nos anos 1960. Ele recordou-se de muitos estudantes que visitavam o Sr. Gülen em seu apartamento no segundo andar para tutoria e encorajamento. Ele comentou que, em sua opinião, esse grupo de estudantes universitários que se reunia em torno do Sr. Gülen foi o início do Movimento Gülen na Turquia.
Contribuições Financeiras
A doação de dinheiro é uma característica inerente dos participantes do Movimento Gülen. Os entrevistados comentaram repetidamente que todos envolvidos no movimento fazem algum tipo de contribuição financeira de acordo com as suas circunstâncias. Havia um consenso geral entre as pessoas de vários círculos locais de que as doações variam entre 5% e 20% dos ganhos anuais, mas, em média, as doações são de 10% e um pequeno grupo de indivíduos faz contribuições acima de 20%.
Teóricos organizacionais argumento que o sucesso de um movimento depende muito das contribuições de “agentes abastados” ou elites. Sejam eles políticos influentes, profetas, empresários de sucesso ou empresas, esses indivíduos são “agentes abastados” porque têm a capacidade de fazer contribuições importantes para realização dos objetivos do movimento. A mobilização de um grande grupo só acontece quando é facilitada pela contribuição de tais elites poderosas, pois elas proveem dois tipos de recursos: primeiro, as elites têm acesso, e com frequência controle, a grandes fontes de recursos; segundo, o envolvimento da elite pode conferir legitimidade e visibilidade a um movimento social, um outro recurso essencial para o sucesso de um movimento.[7]
Cada um dos empresários ricos que entrevistei em Istambul, incluindo o dono de uma grande empresa de eletrônicos, o dono e uma conhecida empresa de móveis e um homem cuja família possui uma transportadora, doa cerca de US$ 1 milhão por ano a projetos inspirados por Gülen, uma quantia que representa entre 10-15% de sua renda. Dois deles estão entre os cinco patrocinadores que financiaram o recente hospital em Istambul inspirado por Gülen. Em Bursa, um empresário doa aproximadamente US$ 3,5 milhões ao ano, um terço de sua renda. Outro empresário doa de US$ 3-4 milhões a onze escolas da Albânia. Um terceiro homem doa dinheiro a escolas em dez países e disse que agora tem irmãos em todos aqueles países e não apenas na Turquia.
Perguntamos a um grupo de doze empresários, em Ancara, se todos eles contribuíam financeiramente para os projetos inspirados por Gülen e, aproximadamente, quanto eles doavam por ano. Cada um dos 12 homens disse que contribuía para os projetos do movimento conforme podia. As quantias doadas variavam de 10 a 70% de sua renda anual, indo de US$20.000 a US$300.000 ao ano. Um senhor, em especial, disse que doa 40% de seus ganhos todos os anos, o que é cerca de US$100.000, contudo, ele gostaria de doar 95%, porém não seria capaz de fazer isso e ainda manter a si mesmo e sua família. Outro homem disse: “Gostaríamos de ser como os Companheiros do Profeta e doar tudo que temos, mas não é fácil”. Esse grupo de empresários consiste de homens mais velhos que estão juntos como grupo há muitos e realizaram vários projetos inspirados por Gülen em Ancara, assim como em outros países. Atualmente, cada um deles tem gerentes em suas lojas que administram os negócios diários. Os empresários passam cerda de 2 a 3 horas por dia nas lojas todos os dias e se encontram quase diariamente para discutir assuntos relacionados aos projetos que apoiam. O grupo, portanto, prove uma comunidade unida de indivíduos que pensam da mesma forma e trabalham por uma causa em comum. Cetin afirma que “a solidariedade do grupo é inseparável da busca pessoal e das necessidades afetivas e comunicativas diárias dos participantes da rede... Contudo, isso é epifenômeno, não o objetivo final, ou o fim em si mesmo, por si mesmo, mas acompanha a ação naturalmente como resultado das realizações nos projetos de serviço social”.[8]
Outro empresário de sucesso que entrevistamos, em Istambul, deu-nos uma ideia das quantias doadas por apoiadores do Movimento Gülen a projetos locais. Ele tem 48 anos de idade e está no setor têxtil. Ele contribui com 20% de usa renda anual de US$ 4-5 milhões para projetos ligados ao movimento. Oitenta por cento de seus amigos próximos também participam do movimento e contribuem como podem para os projetos. Ele diz ter estabelecido amizades muito boas e sinceras por meio da participação em atividades do movimento. Ele ficou sabendo sobre o movimento em 1986, quando um amigo o convidou para um sohbet em que as pessoas se encontravam para discutir sobre os escritos do Sr. Gülen e sobre projetos locais que precisavam de apoio. Perguntado sobre quais benefícios uma pessoa recebe por apoiar os projetos inspirados por Gülen, ele respondeu:
“Eu não recebo nenhum benefício terreno por apoiar o Movimento Gülen. Se receberei alguma coisa na outra vida, veremos quando chegarmos lá. Espero ser capaz de agradar a Deus por meio dessas atividades e do tempo que passei com essas belas pessoas. Nem eu nem os outros voluntários temos qualquer outra expectativa além dessa. Após dar seu coração a essas atividades de caridade, Deus nunca lhe deixa em dificuldades. Nós damos e Ele nos dá muito mais em troca. Ele multiplica o que temos em nossas mãos. Eu não acho que minhas contribuições são grandes o suficiente. Contudo, aos olhos de Deus, nada é pequeno e sem valor se você o faz por Ele e pela humanidade.”
Alguns dos empresários e profissionais doam um terço de sua renda anual, após pagamento de impostos, para projetos do movimento. Por exemplo, um empresário de Istambul aloca um terço de volta em seu negócio, um terço para manter sua família e o terço restante para os projetos ligados a Gülen. Apesar de eu não ter conseguido determinar sua renda anual, seu negócio está avaliado em mais de US$ 1 bilhão e está entre os empreendimentos mais bem-sucedidos de seu setor econômico na Turquia. Posso concluir, portanto, que sua renda anual é multimilionária. Várias pessoas no movimento o identificam como um nos maiores contribuintes para os projetos de serviço social, especialmente as escolas.
As contribuições substanciais feitas por empresários e empreendedores ricos do movimento são importantes não somente por suas consequências financeiras, em termos do que pode ser alcançado na construção e manutenção de projetos caros, mas também porque tal apoio dá legitimidade e visibilidade ao movimento. Durante as entrevistas foram feitas menções frequentes aos “empresários” que conseguem torar possíveis os objetivos de serviço do movimento.
No entanto, não são apenas empresários ricos que contribuem financeiramente para o movimento, mas todo círculo local contribui, de acordo com suas possibilidades, para o apoio a projetos educacionais. O grupo de jovens empreendedores, em Istambul, muitos deles engenheiros, pertencem a uma organização profissional de cerca de 1.000 membros, todos eles participantes do Movimento Gülen. O grupo doa cerca de US$ 2 milhões por ano a projetos inspirados por Gülen. Cerca de metade disso vem dos próprios membros e a outra metade de doações coletadas pelos membros de familiares e parceiros de negócios.
A doação média de 10% nos círculos locais se aplica não somente aos empresários e profissionais, mas também a operários em Istambul, Bursa e Mudanya. Muitos dos participantes inspirados por Gülen trabalham como vendedores, contadores, funcionários públicos, técnicos de manutenção e operários em fábricas. A média salarial anual desses trabalhadores varia muito, mas é comum que eles ganhem entre US$15.000 e US$30.000 por anos. Contudo, há um consenso geral de que a doação média dos membros do círculo era de 10% na maioria dos anos. Se um indivíduo não pode fazer uma contribuição monetária de 10%, ele se compromete a solicitar contribuições de seus conhecidos para completar a diferença. Um trabalhador de Bursa relatou a situação em que arranjou para que seu chefe, que não sabia nada sobre o Movimento Gülen, visitasse a Albânia a visse a escola inspirada por Gülen lá. Ele ficou tão impressionado que agora faz importantes doações financeiras ao movimento todos os anos. Mudas das pessoas que são convidadas a contribuir para projetos específicos não são membros doadores do movimento. Na verdade, eles são familiares, amigos e conhecidos de fora do movimento que estão dispostos a apoiar financeiramente alunos necessitados ou projetos de serviços socais merecedores, especialmente durante o mês do Ramadan, quando se espera que todo muçulmano praticante faça doações para caridade.
Os círculos de trabalhadores tendem a apoiar bolsas de estudos em vez de escolas, já que este é um “item grande” em termos de recursos financeiros. Em geral, a estadia em uma das repúblicas do Movimento Gülen custa cerca de US$ 1.800 ao ano e os trabalhadores acreditam que podem contribuir para esse tipo de bolsa, sozinhos ou com outro membro do círculo. Os trabalhadores também ajudam membros, em seu meio, que estejam em necessidade. Há também repúblicas em suas vizinhanças e os membros dos círculos, com frequência, sabem sobre estudantes necessitados nessas repúblicas. Além disso, estudantes visitam membros e os avisam sobre quem precisa de ajuda. Com frequência, filhos de membros podem ficar em repúblicas locais sem custo e tal tipo de moradia é muitas vezes preferido, pois é mais conducente para os estudos e para que os jovens conheçam o tipo de amigos que seus pais preferem.
Uma prática interessante em todos os círculos locais em que realizamos entrevistas foi o fato de os indivíduos anunciarem publicamente suas doações anuais a projetos inspirados por Gülen. Apesar da grande ênfase dada ao fato de que as contribuições são totalmente voluntárias e que se respeita as circunstâncias individuais de cada um, os entrevistados reconheceram que há certa competição entre os membros sobre o quanto cada um pode doar. Isso ficou muito óbvio entre os doadores mais abastados que, frequentemente, se desafiam a aumentar suas doações. Além da competição, contudo, vários participantes disseram que ouvir que um colega com renda similar vai doar certa quantia os motiva a fazer o mesmo. Um engenheiro disse: “Há um pouco de competição. Em geral, sabemos o quanto cada um ganha e podemos comparar. Quando vejo que ele está doando 10%, isso me encoraja a fazer o mesmo”.
Há cerca de 50 grupos locais de diálogo inter-religioso nos Estados Unidos que consistem de indivíduos inspirados pelos ensinamentos e pela vida do Sr. Gülen.[9] Esses grupos são organizacionalmente independentes, apesar de seus membros talvez conhecerem uns aos outros e compartilharem ideias e projetos informalmente. O Instituto de Diálogo Inter-religioso para Paz Mundial (IID, sigla em inglês) foi fundado em agosto de 2002 em Austin, Texas. Um ano depois a sede foi transferida para Houston. O IID organiza atividade em mais de 16 cidades da região sul, incluindo Texas, Louisiana, Oklahoma, Kansas, Arkansas e Mississippi. O propósito desse instituto sem fins lucrativos, assim como de outros em todos os Estados Unidos, é promover o diálogo e entendimento inter-religioso.
Para alcançar esse propósito, o instituto organiza e apoia inúmeras atividades em cada uma das cidades em que tem membros. Elas incluem um jantar inter-religioso anual de Ramadan, um jantar e premiação anual para homenagear pessoas das comunidades locais que fazem contribuições importantes para o diálogo inter-religioso, oficinas durante todo o ano, um retiro anual e inúmeras viagens inter-religiosas à Turquia. Essas atividades são apoiadas financeiramente por doações de voluntários comprometidos com o instituto, em sua maioria, muçulmanos turcos inspirados pelos ensinamentos do Sr. Gülen. Muitos deles são estudantes turcos que frequentam universidades no sul dos Estados Unidos, contudo, há alguns empresários e profissionais que também estão envolvidos.
Com base no modelo turco de círculos locais que apoiam projetos inspirados por Gülen, grande parte do orçamento do IID é propiciado por contribuições relativamente pequenas por parte de mais de 500 turcos e turco-americanos, no sul dos EUA, que apoiam os projetos do IID. Cerca de metade desses apoiadores são estudantes locais. Nos primeiros anos, o orçamento do IID era de menos de US$25.000. Ao fim de 2006, ele havia aumentado para US$600.000 e, em 2008, o IID coletou quase US$1 milhão em doações ao ano. Cerca de 80% vem da comunidade turco-americana local e os 20% restantes da comunidade não muçulmana local.
Vários estudantes universitários, muitos deles com pequenas bolsas de estudos da Turquia ou de suas universidades americanas, doa de US$2.000 a US$5.000 todos os anos, apesar de tais doações significarem grandes sacrifícios por parte dos estudantes. Não é incomum que um estudante com uma bolsa de US$1.500 por mês doe de 100 a 150 dólares por mês ao IID, o que constitui cerca de 10% de sua renda. Alguns dos estudantes trabalham em dois empregos para doar algum dinheiro às atividades do IID. E muitos deles mal podem esperar sua graduação para conseguirem bons empregos e, então, poderem contribuir com uma parte maior de sua renda. Um estudante disse “Como estudante universitário é difícil fazer grandes doações, mas espero que após minha graduação serei capaz de fazer doações maiores e melhores”.
Aproximadamente 50% dos membros do IID são profissionais e empresários da comunidade, muitos deles completaram sua educação nos Estados Unidos e optaram por trabalhar lá no momento. São as contribuições desses indivíduos que constituem a maior proporção da receita do IID. Um empresário local, por exemplo, que é engenheiro e tem alguns investimentos no setor imobiliário, doa entre 50 e 70 mil dólares todos os anos ao IID, o que é 40% de sua renda. Ele financia sozinho um jantar iftar todos os anos. Em 2006, ele também pagou pelas passagens aéreas de 12 americanos à Turquia para uma viagem inter-religiosa patrocinada pelo IID. Ele lamenta que sua agenda apertada o impede de se envolver mais nas atividades do IID. Contudo, ele acredita que pode ter um impacto nos projetos do IID ao prover apoio financeiro substancial. Além disso, ele se reúne com amigos todas as semanas em sohbets (reuniões em grupo) para discutir as ideias do Sr. Gülen e como torna-las operacionais nos projetos locais.
Enquanto a ênfase, na literatura organizacional, é colocada na importância do dinheiro e da legitimidade como recursos para ação bem-sucedida, alguns teóricos afirmam que o trabalho voluntário não recebe a mesma atenção. Muito do ímpeto para ação, assim como as atividades diárias que impulsionam um movimento para seus objetivos, depende do trabalho dos membros do movimento. A descentralização da autoridade e uma estrutura em que as tarefas são assumidas por comitês de voluntários melhora a vitalidade de um movimento.[10] Esse fato está evidente no IID, assim como em outros grupos locais Gülen. As contribuições financeiras diretas não capturam a figura completa das doações aos projetos Gülen. Participantes doam tempo, talentos e alimentos a várias atividades patrocinadas pelo IID. Por exemplo, jantares e almoços, com frequência, são organizados pelo IID. Pede-se constantemente que mulheres na organização preparem comidas turcas para esses encontros, pequenos e grandes, e nem o custo dos ingredientes nem o da mão de obra envolvidos no preparo são compensados. O planejamento e manutenção de websites, a concepção de panfletos e brochuras, a criação de vídeos relacionados às atividades do IID, a organização de eventos, a liderança em viagens à Turquia, a hospedagem de pessoas de outras comunidades religiosas em suas casas durante o Ramadan e o contato com a comunidade inter-religiosa são feitos por voluntários do movimento. Não é incomum que muitos membros do IID passem de 20 a 30 horas por semana em atividades do Movimento Gülen, e muitos desses participantes são alunos em tempo integral de universidades locais. Se essas atividades fossem terceirizadas ou calculadas em termos de custos, as doações dos membros do IID seriam substanciais.
Alguns teóricos de movimentos sociais argumentam que uma estrutura formal com divisões de trabalho claras leva a um movimento mais bem-sucedido, e que uma estrutura para tomada de decisões centralizada aumenta a efetividade das tarefas e a mobilização de recursos.[11] Contudo, outra pesquisa mostra que arranjos burocráticos são menos efetivos na mobilização da participação de base e que estruturas descentralizadas são mais bem-sucedidas em motivar e envolver a participação dos membros.[12] No caso do Movimento Gülen, a autoridade e estrutura descentralizada promove o envolvimento dos membros e um sentimento de responsabilidade por parte de milhões de participantes que mantém um interesse pessoal nas conquistas do movimento.
A Motivação Por Trás das Contribuições Financeiras
Quando questionados por que eles doam US$1 milhão ou mais todos os anos a projetos do movimento, o grupo de empresários de Istambul deu as seguintes razões: para criar seres humanos melhores, conforme encorajado pelo Sr. Gülen; para educar os jovens: para agradar a Deus; para ser recompensado na próxima vida; para ser parte de um movimento maior para melhoria do mundo; para dar esperança ao povo na Turquia e no mundo todo. Dois dos empresários estavam entre os primeiros membros do movimento que ouviram as pregações do Sr. Gülen, nos anos 1970, e ficaram impressionados com as ideias dele e se reuniram a outros empresários locais para ver o que poderiam realizar daquela visão.
O presidente de uma companhia de manufatura têxtil disse que ele é motivado pelas ideias do Sr. Gülen de servir:
Entramos em contato com pessoas do movimento e isso nos motiva a nos envolvermos com os projetos. Quais são meus projetos favoritos? O que mais me agrada é ver esses estudantes graduarem e assumirem postos no governo e tornarem-se pessoas corretas no governo e outros cargos. Quando vejo ex-alunos nessas posições, fico muito feliz. Vejo que a minha sociedade e meu governo estão melhorando em termos de correção e livre de corrupção.”
Um empresário rico de Istambul, que é um dos maiores doadores, relatou a história do primeiro encontro para angariar fundos para construção da primeira escola inspirada por Gülen, um evento em que o Sr. Gülen fez um discurso motivacional. Ele disse que era importante ajudar os estudantes em necessidade e deu exemplos históricos da vida do Profeta e seus companheiros. Naquele evento, vi pessoas fazendo cheques, doando dinheiro e alguns oferecendo anéis e braceletes de ouro. “Fiquei profundamente comovido com aquela cena, doações tão imediatas e generosas. A partir daquele primeiro impacto, pensei que isso era algo do qual gostaria de fazer parte. Depois, vi o sucesso dos projetos e tornei-me parte do movimento”. Em seguida, ele elaborou outros exemplos de doações que o influenciaram. Ele viu operários, com famílias, que ganhavam muito pouco por mês, mas dedicavam 20% de sua renda para apoiar, talvez, metade ou um quarto de uma bolsa de estudos para um estudante necessitado. Ele percebeu que aquelas pessoas provavelmente utilizavam transporte público, mas faziam doações para ajudar estudantes. Depois, ele envolveu-se em encontros para angariar fundos e viu o que as pessoas faziam para arrecadar dinheiro para os projetos inspirados por Gülen, alguns doavam seus carros, outros relógios de ouro e mulheres ofereciam suas joias para apoiar os estudantes. Uma pessoa, em Izmir, assou pizzas e as vendeu de um carrinho para angariar dinheiro para construção de um pequeno dormitório em uma cidade vizinha. Quanto mais ele via esses exemplos de doação, maior era sua motivação para fazer sua parte para apoiar os projetos dignos. Ele comprometeu-se a aplicar um terço de sua renda para melhorar seu negócio, um terço para sustentar sua família e a doar o terço restante aos projetos Gülen.
Um engenheiro, quando questionado por que doa 10% de sua renda anual ao movimento, disse: “Não há outra razão além de querer agradar a Deus. O oposto é simplesmente trabalhar por si mesmo, ganancia”. Ele acrescenta: “Nós do Movimento Gülen somos devotados ao espírito de servir à humanidade, algo que o Sr. Gülen nos ensinou”.
Os operários foram inspirados pelo fato de o Sr. Gülen parecer autêntico, um deles disse: “Fiquei impressionado quando o ouvi, ele não pregou nada que ele próprio não praticasse”. Outro trabalhador disse que via lutas e acusações em outros grupos da sociedade, mas com o Sr. Gülen ele viu amor e coisas positivas. Ele também gostou do fato de que o Sr. Gülen tinha uma barba como a maioria dos imams e que ele ensinava que a Turquia e os países islâmicos deveriam abraçar a modernidade, a ciência e a globalização. Outro trabalhador expressou o fato de que gostaria de ter obtido uma formação, mas não teve a oportunidade. Ele sente que agora está fazendo algo para ajudar outras pessoas a serem educadas.
Em vários outros círculos locais, ouvi as pessoas falarem sobre o fato de que aquilo que Deus nos deu é para ser compartilhado e que Deus quer que as pessoas sejam veículos para o compartilhamento. Um trabalhador disse: “Nós vimos pessoas, no passado, que foram altruístas e compartilharam com os outros, como veículos de Deus, portanto, sentimo-nos humildes sobre o que podemos fazer”.
Há uma tradição turca que promove a separação entre doador e recipiente para que um sentimento de obrigação não seja criado na pessoa ajudada. Além disso, o doador é visto como um agente de transferência de Deus em vez de um provedor beneficente. Um empresário de Bursa que doou terras para construção de uma escola não enviou seus próprios filhos àquela escola para que ele não misturasse motivações pessoais à realização de boas ações. Outra pessoa comentou: “Não queremos muitos detalhes sobre o que estamos apoiando, por exemplo, quais estudantes receberam bolsas de estudos porque isso se torna muito pessoal. Em vez disso, doamos para um fundo que ajuda estudantes necessitados, mas ninguém sabe quem está apoiando quem”. Contudo, alguns de nós está em contato com os estudantes que recebem ajuda para que saibamos, em geral, como nosso dinheiro está sendo utilizado.
O empresário de 48 anos de idade de Istambul, disse isso: “As pessoas do Movimento Gülen voltam suas ideias aos projetos, elas dizem como alcançaram seu sucesso. As pessoas confiam nelas, se elas pedem por um projeto, elas esperam que ele venha do Criador, não das criaturas, e é por isso que acredito que elas alcançam sucesso. Se qualquer pessoa do movimento vem à minha cidade e pede ajuda, faço o que puder para ajudá-la e encorajo meus amigos a fazerem o mesmo”. Ele disse ainda que tais doações são feitas em um espírito de servidão ao Criador com o serviço ao Seu povo e, com frequência, uma doação resulta na criação de fortes laços entre doadores. Cetin afirma:
“A participação em serviços sociais requer formas relativamente permanentes de redes. Indivíduos vêm e vão e substituem uns aos outros, mas os projetos estão sempre lá e continuam. Necessidades individuais e objetivos coletivos não são mutuamente exclusivos; eles são uma coisa só. Esses dois elementos e a ação do Movimento Gülen coincidem e se interlaçam na vida diária... A participação em serviços sociais para um determinado objetivo e a tangibilidade dos produtos geram e fortalecem a solidariedade.”[13]
Um engenheiro disse que as pessoas fazem um investimento durante a vida com seu dinheiro e, depois, recebem a recompensa na outra vida se investiram bem. Ele acredita que os estudantes fazem um grande investimento em suas vidas e ele quer ajuda-los a fazê-lo para que eles possam viver uma vida produtiva, ganhar a recompensa eterna e ajudar outros a fazer o mesmo investimento depois de formados.
Enquanto o sucesso monetário pessoal não é uma motivação explícita para doação, vários entrevistados de todos os níveis socioeconômicos afirmaram que, frequentemente, fazer doações para projetos dignos traz recompensas materiais para os doadores: os negócios geram lucros maiores e os trabalhadores recebem aumento de salários ou promoções. Essas conquistas são enviadas como bênçãos de Deus àqueles que doam. Um trabalhador disse: “Quando alguém doa, ele vê abundância em seus ganhos; Deus lhe dá abundância”.
Convicção e Confiança nos Projetos Inspirados por Gülen
Em todos os círculos locais em que realizei entrevistas, membros expressaram sua confiança em como suas doações eram usadas. Repetidamente, os entrevistados disseram que nunca se preocuparam sobre como seu dinheiro era usado porque sabiam que estava sendo bem gasto. Outro comentário frequente era: “Vemos os resultados”. Com isso, eles querem dizer que vem os estudantes que se saem academicamente bem nas escolas e cursos pré-vestibulares. Eles veem estudantes das escolas inspiradas por Gülen aceitos nas melhores universidades da Turquia e do exterior. Muitos deles tornam-se membros do movimento quando estão na universidade. É comum que algumas pessoas dos círculos locais viagem à Ásia Central e outros países que têm escolas inspiradas por Gülen e vejam as contribuições feitas por essas escolas. Patrocinadores também ouvem histórias de pacientes que são tratados em hospitais inspirados por Gülen e ficam muito felizes com o tratamento humanizado dado por médicos e funcionários. As histórias das muitas pessoas necessitadas ajudadas pela Kimse Yok Um, a associação de ajuda humanitária, são repetidas nos círculos locais e reforçadas na mídia. Dado que as comunidades inspiradas por Gülen mantém um alto nível de comunicação por meio dos círculos de sohbet e da mídia, as histórias de sucesso dos projetos inspirados por Gülen são contados e recontados, assim, assegurando aos contribuintes de que seu dinheiro está sendo bem gasto e produzindo resultados tangíveis.
Recrutamento no Movimento
Muitos participantes do movimento ficaram sabendo sobre ele pela primeira vez quando moraram nas repúblicas, frequentaram a universidade com pessoas do movimento ou quando frequentaram cursos pré-vestibulares. Outros ouviram sobre ele de familiares ou amigos. Por exemplo, um empresário de Istambul tinha um irmão na faculdade de medicina que o convidou a Ancara quando ele estava no ensino médio. Ele ficou com 20 estudantes de medicina em uma das repúblicas ligadas a Gülen. Ele disse que percebeu imediatamente que esses estudantes eram diferentes de outros estudantes universitários em termos de valores, aspirações e atitudes mútuas. Ele deu o exemplo de ter dormido até tarde no primeiro dia e um dos estudantes ficou para lhe preparar um grande café da manhã antes de sair para aula. Ele foi influenciado pelo grupo e quis saber o que os inspirava a viver juntos na república. Ele descobriu que muitos dos estudantes recebiam bolsas de estudos para morar lá, financiadas por empresários locais. Quando me tornei empresário, lembrei-me da minha experiência e quis ser parte do movimento como patrocinador para estudantes necessitados.
Como muitos daqueles que entrevisteis, um engenheiro ouviu sobre o Movimento Gülen pela primeira vez na universidade. Ele estava refletindo sobre sua vida e tentando encontrar um significado. Seu primo o introduziu a pessoas inspiradas por Gülen que eram estudantes na universidade e viviam juntos em uma república. Ele se juntou a eles e tornou-se parte da comunidade.
Outros engenheiros do grupo, assim como vários médicos que entrevistei, conheceram o Movimento Gülen pela primeira vez quando frequentaram cursos pré-vestibulares em várias cidades de toda a Turquia. Um engenheiro, por exemplo, buscava por companhia intelectual para sua vida, mas não pode encontra-la no grupo nacionalista de extrema direita a que pertencia. Ele disse: “Quando encontrei as pessoas inspiradas por Gülen no curso pré-vestibular, encontrei tudo que estava procurando. Encontrei religião, nacionalismo, ciência, intelectualismo e uma visão de mundo que eu poderia apoiar”. Depois, ele ouviu um discurso do Sr. Gülen. Ele pedia que as pessoas não lutassem, mas entendessem umas às outras. Ele disse que somos todos seres humanos, no mesmo barco. Como nacionalista, ele disse, todos se tornam seu inimigo. Quando você ouve o Sr. Gülen, você vê que somos todos irmãos, na mesma frequência. Ele nos mostrou como cristãos, judeus e muçulmanos vêm das mesmas raízes. “O Sr. Gülen abriu nossos olhos para que vejamos que somos amigos de outros povos. Antes nós os víamos com diferentes, ele nos ensinou a vê-los como alguém próximo de nós”. Ele disse ainda que podemos ajudar uns aos outros, mesmo em nossas carreiras e negócios, e que precisamos pensar globalmente e até mesmo apoiar nossos amigos a irem ao exterior em vez de focar somente na Turquia.
Um operário fabril matriculou-se em um curso pré-vestibular patrocinado pelo Estado, em Istambul, mas percebeu que os estudantes que completavam o curso não sucediam em conseguir pontuação boas o suficiente para entrarem para universidade. Ele conheceu alguns estudantes matriculados em um curso pré-vestibular inspirado por Gülen que estavam muito mais comprometidos com estudar e adquirir uma formação, então ele transferiu-se para aquele curso. Lá, ele conheceu e passou a respeitar membros do Movimento Gülen, especialmente os professores do curso, que eram muito dedicados e passavam mais tempo com os alunos do que o requerido na sala de aula. Ele queria saber o que os motivava e começou a conversar com eles sobre o Sr. Gülen e suas ideias. Ele ficou muito impressionado e queria ser como eles.
Gerando Compromisso
Um dos maiores achados empíricos do estudo de Kanter sobre as utopias americanas, que subsequentemente influenciaram a literatura de compromisso, é que para uma comunidade sobreviver, os três desafios básicos do compromisso devem ser abordados.[14] Primeiro, indivíduos veem seus próprios interesses como sustentados pela participação no grupo.[15] Segundo, indivíduos sentem uma solidariedade afetiva com o grupo. [16] Terceiro, os indivíduos percebem uma autoridade moral, transcendente no grupo.[17] Esses mecanismos podem ser resumidos como estratégias pelas quais o grupo tenta reduzir o valor de outros possíveis compromissos e aumentam o valor do compromisso ao grupo; em outras palavras, os processos, ao mesmo tempo, o afastam de outras opções e o aproximam da comunidade. A pesquisa de Kanter mostra em particular uma correlação positiva entre sacrifício e investimento em termos de geração de compromisso. Quando mais custoso o sacrifício, maior o valor dado pelo indivíduo aos objetivos do grupo. Dados neste livro corroboram a alegação de Kanter ao mostrar que contribuições financeiras aos projetos inspirados por Gülen não apenas manifestam a crença nos objetivos do movimento, mas que doar a si mesmo é um mecanismo de compromisso para envolvimento no grupo.
Na conceitualização de Kanter, os objetivos do grupo fundem-se ao sentimento de propósito e de sentido na vida do indivíduo. Os objetivos do grupo alimentam o sentido de individualidade da pessoa e o grupo torna-se uma extensão dela, assim ligando inextricavelmente pessoa e grupo, dessa forma, respondendo ao primeiro desafio básico de Kanter para sobrevivência e sucesso do grupo. Entrevistas com apoiadores do Movimento Gülen demonstram que eles identificam os objetivos do movimento como seus próprios objetivos pessoais. Ser parte do Movimento Gülen, participar dos círculos locais e fazer contribuições para os projetos apoiados pelo movimento é central para sua identidade.
Os laços afetivos que surgem no grupo no decorrer do trabalho em conjunto em projetos relevantes preenchem o segundo desafio organizacional de Kanter. O fato de que muitos círculos locais são baseados em indivíduos que compartilham interesses profissionais ou empresariais acrescenta ainda mais para a solidariedade criada no grupo. Quanto mais intimamente integrado um indivíduo estiver em um grupo, maior será seu grau de participação.[18] Participação é uma expressão de pertença a um determinado grupo social de receber recompensas individuais por ser parte de um coletivo maior. Além disso, quanto mais intensa a participação coletiva em uma rede de relações, mais rápida e durável será a mobilização de um movimento.[19] O Movimento Gülen facilita e, portanto, aumenta a disposição do indivíduo para se envolver em projetos de serviço social por meio de sua relação com outras pessoas que pensam da mesma forma e têm intensões semelhantes.
O terceiro desafio, a percepção de uma autoridade moral, transcendente no grupo e proporcionada pelas contínuas discussões sobre os ensinamentos do Sr. Gülen, assim como as leituras do Alcorão e dos hadices do Profeta. Portanto, os objetivos e motivações por trás dos projetos de serviço social vão além de apenas ajudar outras pessoas. De fato, eles estão enraizados na noção de que são parte da contínua criação e cuidado de Deus por Seu povo.
Kanter argumenta que um outro mecanismo de compromisso individual à vida em grupo e aos objetivos do grupo é o sacrifício. A doação de tempo e recursos de um indivíduo ao grupo não apenas indica compromisso ao grupo, mas cria também esse compromisso. Conforme as pessoas do Movimento Gülen doam seus recursos pessoais à vida em grupo e aos projetos do grupo, o próprio ato de doar tem a consequência de intensificar o compromisso com o grupo e seus ideais.
Os ideais islâmicos básicos que motivam os membros do Movimento Gülen a contribuir com tempo, energia e doações financeiras aos projetos inspirados por Gülen funcionam simultaneamente para construir forte compromisso entre indivíduos e o movimento. Uma das maiores forças dos círculos locais são as constantes discussões desses conceitos baseados no Alcorão, na tradição profética e nos trabalhos do Sr. Gülen. Os círculos, portanto, proveem motivação espiritual para as doações e são muito mais do que simples locais de arrecadação de dinheiro. Conscientemente ou não, a estrutura que evoluiu no Movimento Gülen está enraizada em sólidos princípios organizacionais e isso se reflete no crescimento do movimento no mundo todo.
[1] Dados dessa entrevista foram descritos pela primeira vez em Ebaugh e Koc (2007).
[2] Baskan (2004).
[3] Tilly (1978); Oberschall (1973); Snow, Zurcher e Eckland-Olson (1980); McCarthy e Wolfson (1996); Melucci (1999).
[4] Ver o capítulo Conclusões para uma descrição das entrevistas que conduzi com críticos ao Movimento Gülen.
[5] A questão das mulheres no Movimento Gülen foi pouco estudada por acadêmicos externos, especialmente estudiosos versados a cultura turca, que possa trazer uma perspectiva sistemática e não ideológica ao tópico.
[6] Kalyoncu (2008).
[7] Fireman e Gamson(1979); Olson (1965); McCarthy e Zald (1977); Garner (1996); Melucci (1999); Della Porta e Diani (1999); Morris e Staggenborg (2004).
[8] Cetin (2010).
[9] Michels (2008).
[10] McCarthy e Wolfson (1996); Morris e Staggenborg (2004); Byrne (1997).
[11] Gamson (1975); McCarthy e Zald (1977); McCarthy e Wolfson (1996); Melucci (1999); Morris e Staggenborg (2004).
[12] Gerlach e Hines (1970); Curtis e Zurcher (1974); Jenkins (1983); Byrne (1997).
[13] Cetin (2010).
[14] Kanter (1968).
[15] Konovsky e Pugh (1994); Rioux e Penner (2001).
[16] Van Vugt e De Cremer (1999); Fine (1986); Jacobsen (1988).
[17] Hales (1993).
[18] Klandermans (1989).
[19] Melucci (1999).
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