O Lugar do Movimento Gülen na História Intelectual do Islã
No século XXI, o Islã vive em um mundo que não aceita mais as verdades absolutas do passado. Comunidades religiosas que dependem de sua identidade, história e relacionamento com um Deus que já não está na moda, estão sendo desafiadas a se adaptar a este mundo novo, pós-moderno e globalizado. Como parte da comunidade religiosa islâmica mundial, o movimento que se desenvolveu em torno de Fethullah Gülen e sua ideologia faz uma séria tentativa de adaptação a este mundo.
O Movimento Gülen não é novo quanto à sua ideologia. Gülen baseia seus ensinamentos em precedentes da história do Islã. Gülen reconhece que através de sua história, muçulmanos individuais e movimentos que se desenvolveram ao redor deles buscavam expandir as fronteiras da influência intelectual e relevância contemporânea do Islã. De Mu’tazilites, que defendia a introdução da razão na interpretação alcorânica, a Ibn Rushd, que tinha influências de Aristoteles, a Said Nursi, que acreditava que o contato com Cristianismo poderia ser vantajoso, muçulmanos se preparavam para sair de seu quadrado. Matemáticos medievais islâmicos se inspiravam em estudos vindos da Índia, e, na Andaluzia, cientistas, teólogos e filósofos trocavam ideias livremente com seus colegas Judeus e Cristãos.
Fethullah Gülen mantém, firmemente, esta tradição. Embora continue um teólogo muçulmano conservador, ele acredita profundamente no valor da razão, ciência e tecnologia. Ele se envolveu, intelectualmente, com pensadores ocidentais e compartilhou, pessoalmente, seu desejo por uma harmonia inter-religiosa com líderes de outras religiões. É verdade que tudo isso já havia sido feito antes. O que faz Gülen incomum é a abrangência das atividades em que seus seguidores estão envolvidos, a amplitude de sua visão e as oportunidades que ele criou para possibilitar que sua ideologia fosse disseminada. Gülen tem a visão de um mundo onde as pessoas são profundamente baseadas em uma tradição moral e ética, onde a humildade e serviço são altamente valorizados e onde a razão, ciência e tecnologia são utilizadas integralmente para o benefício de todos. Seu uso da interpretação para demonstrar a relevância do Alcorão no mundo de hoje é muito importante para se atingir aquele objetivo. Assim como sua prontidão para o diálogo com filosofias e religiões não-muçulmanas. As escolas estabelecidas por seus seguidores desenvolveram currículos que formarão adultos capazes de trazer sua visão para a realidade. As empresas de mídia, propriedade de seus seguidores, permitem uma disseminação mais ampla de ideias.
No momento, a influência de Gülen é mais forte em países asiáticos com laços culturais com a Turquia, contudo isto tem mudado conforme as escolas de seu movimento se espalham a outras partes da Ásia e o resto do mundo.
Gülen não é tão conhecido no ocidente quanto na Ásia, no entanto, seu perfil internacional está aumentando. A decisão de criação da “Cadeira Fethullah Gülen no Estudo do Islã e Relações Católico-Muçulmanas na Universidade Católica Australiana” é não só uma indicação de seu perfil crescente, mas o reconhecimento do papel de Gülen e seu movimento no mundo.
O Movimento Gülen se mantém firme na história intelectual do Islã. Apresenta uma visão tanto para o futuro do Islã quanto para o futuro do mundo, uma visão que está atenta às excentricidades e relatividade do pós-modernismo, ao mesmo tempo que se mantém verdadeira à sua herança islâmica.
Extraído do artigo apresentado na conferência “Muslim World in Transition: Contributions of the Gulen Movement” (O Mundo Muçulmano em Transição: Contribuições do Movimento Gülen), 25-27 de outubro de 2007, Londres, Inglaterra.
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