Endireitando os fatos sobre o Movimento Gülen
Muito do que foi dito num artigo recente de Dan Bilefsky e Şebnem Arsu no International Herald Tribune (“Shadow Force Grows in Turkey”, “Força Sombria Cresce na Turquia”, publicado em 18 de abril) descreve Fethullah Gülen e a história recente da Turquia de forma correta, no entanto, os autores lançam uma sombra de insinuação e conclusões infundadas, aparentemente, derivadas de predisposições pessoais em vez da realidade.
O ataque a Movimento Gülen é malicioso, especialmente com a frequentemente repetida, mas nunca provada acusação de que apoiadores de Gülen se infiltraram nas forças policiais nacionais com algum propósito pérfido. Certamente, há seguidores de Gülen na polícia, da mesma forma que há católicos nas forças policiais americanas. Porém, atribuir um objetivo infundado, sem evidências, é impróprio. É igualmente impróprio criar um fato por meio de insinuações ao reportar um telegrama da embaixada americana especulando se a polícia nacional é controlada por seguidores de Gülen “é impossível confirmar, mas não encontramos ninguém que o conteste.” Como a falta de confirmação se torna um fato? Recentemente, eu publiquei um livro sobre os oito anos do julgamento político de Gülen, 2000-2008. Uma das acusações contra ele envolvia a alegação de infiltração na polícia, e muitas outras, algumas das quais o artigo repete (por exemplo, o “objetivo secreto” islamista). O tribunal de três juízes, meticulosamente, descartou cada acusação em um parecer de 48 páginas e o absolveu. Um painel de apelação confirmou a sentença, como o fez o tribunal de apelações. Esta foi uma decisão corajosa por parte dos juízes de primeira instância, que são nomeados por um braço do Estado, porque a intenção de condenar Gülen era clara.
Na verdade, os juízes decidiram que a gravação do sermão de Gülen ao qual o artigo se refere foi fabricado, não “manipulado”, como o artigo menciona. Este foi um trabalho conjunto. O parecer do tribunal, em inglês e turco, estão disponíveis no website associado ao meu livro: http://www.gulentrial.org/. Eles poderiam ter sido, facilmente, acessados pelos autores do artigo.
O porquê de o artigo ignorar a essência deste julgamento é um mistério. Talvez seja porque ele vai contra a sua tese. O artigo, também, ignora que os seguidores de Gülen apoiaram a emendas constitucionais recentes, de 12 de setembro de 2010, que poderíamos considerar uma Lei de Direitos de liberdade civil. 74% da população votou no referendo e aprovaram as emendas com uma margem de 58%.
É impossível imaginar como os julgamentos de conspiração Ergenekon e Sledgehammer, algumas vezes excessivos, poderiam ser atribuídos ao Movimento Gülen, já que promotores e juízes para estes casos são nomeados pelo Conselho Supremo de Juízes e Promotores (HSYK), uma instituição que se autoseleciona e autoperpetua e que, historicamente, funciona como um “cão de guarda” contra mudanças políticas “não autorizadas”. Na verdade, o fato deste órgão institucional estar processando oficiais militares é um avanço significativo, algo que não teria acontecido alguns anos atrás – e ocorre em sincronia com o mandato da União Europeia de que a Turquia deve estabelecer um controle civil sobre as forças militares se quiser ser um membro da UE. Os seguidores de Gülen podem apoiar estes processos, assim como a maioria dos turcos; mas eles não os controlam.
Outro fato importante que o artigo omite é que o jornal Zaman, que se associa aos apoiadores de Gülen, tem criticado duramente o Primeiro-Ministro Recep Tayyip Erdoğan pela maneira que ele lida com a liberdade de expressão, liberdade de imprensa e outros direitos humanos. Colunistas do Zaman têm, repetidamente, condenado a prisão de jornalistas, mesmos aqueles envolvidos no Ergenekon.
O artigo, também, não menciona que o Movimento Gülen tem apoiado firmemente a adesão à UE desde o princípio, o que significa assegurar liberdades civis, adequar o sistema legal aos padrões europeus e separar o Estado laico da religião. Dificilmente o que se poderia esperar de uma grupo com um, suposto, objetivo islamista.
Eu não sou um apologista para o Movimento, porém, do meu ponto de vista, ele tem sido, de maneira geral, bom para a democracia, na Turquia, e tem orquestrado ações positivas em outras partes do mundo. Para um jornalista, o que é justo deveria ser reportado justamente.
Harrington é advogado de Direitos Humanos, em Austin, onde ensina na Escola de Direito da Universidade do Texas. Ele é autor de “Wrestling with Free Speech, Religious Freedom, and Democracy in Turkey: The Political Trials and Times of Fethullah Gülen” (Lutando pela Liberdade de Expressão, Liberdade Religiosa e Democracia, na Turquia: Os Julgamentos Políticos e Tempos de Fethullah Gülen) (University Press, 2011). O parecer jurídico, em inglês e turco, estão disponíveis no website associado ao livro: http://www.gulentrial.org/.
FEVEREIRO 01, 2014
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